quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Cápsula do tempo

Entrei em uma cápsula do tempo muito bem feita que me levou direto para o mal feito do meu passado. Olhando lá de cima para todos os anos que se passaram, pude compreender o quanto cada coisa foi importante, mesmo que a única coisa que dê significado a elas hoje sejam os textos que perpetuaram cada sentimento que vivi, descrevendo tão bem cada estado de espírito, mesmo que transitórios, acreditei fidedigna de que seriam todos para sempre. Não foram. Sinto que o pra sempre é agora, e se pudesse, me congelaria como estou, como me senti hoje, enquanto observava o céu da manhã, puro e nítido, azul doce, e me colocava nele como o pássaro que nele observava voar, intacto, esplêndido, alto e subindo, cada vez mais, e foi sentindo sua plenitude que pude sentir também a minha. E então soube o quanto era feliz, e mais feliz ainda me fiz por saber que essa felicidade era oriunda de mim mesma.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O dia que morri por dentro

E foi ali, no silêncio daquela casa fria, que percebi no quão amargurada eu tinha me tornado. Meus pés congelavam, meus dedos doíam e as mãos já não podia sentir. Meu corpo inteiro se arrepiou quando olhei ao meu redor e me senti sozinha, como realmente estava. Tudo ali pudera competir com a imensidão gélida que só caracterizava a mais fria cordilheira A da Antártida, o lugar mais frio do mundo. Um deserto álgido e seco, era um eterno semestre na escuridão de um longo inverno. Friamente, me subiam as dores, e se dispersavam por todo o corpo. Constante. Começando pela cabeça, instalando-se nos olhos. E como doíam. Já não podia mais estar ali, procurando, olhando, pra nada ver. Era unicamente através daquela janela de vidro que eu podia espiar a vida, onde os prédios pareciam competir altura, onde os aviões pareciam competir tamanho, e onde a tristura da maldade parecia competir com o amor que eu carregava no peito. E me doía na memória. O amor que me trazia lembranças de como era bom o aconchego do lar. Ah, como eu gostava de estar em casa! Ainda naquele dia havia sonhado alto, me teletransportado pra dentro de cada fotografia antiga que emanava calor. E as mesmas memórias se convertiam no dissabor de estar de volta a realidade. Eu tinha mergulhado no lago Vostok e senti todo o meu corpo parar, órgão por órgão. Senti o sangue congelar dentro das veias e a última fagulha de calor se esvair de dentro de mim. E num instante, nada me pertencia. Nem o chão que eu pisava, nem o teto que me cobria, nem as paredes que me cercavam, nem o corpo que eu habitava. Dentro de mim não havia mais nada.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Condenando antônimos

Negar seu verdadeiro eu é negar a si mesmo todos os dias. É dizer não pra você, é podar cada galho da árvore que define quem você é de verdade. Ignorar seus princípios  É só viver preso dentro de si, guardando tudo que você significa. Sem nem sequer que o mundo saiba que você exista. Mesmo que nem todos se agradem de quem vão encontrar, você nunca deixará de ser quem é. Diferenças não distinguem e definem valores. As diferenças são que nos tornam únicos, cada um à sua maneira. Mas a crueldade habita em quem sabe por as diferenças à prova, à mostra, um falso árbitro, e te condena, por você não ser quem os outros esperam que você seja. Quando você é impiedosamente analisado, classificado, julgado, taxado e sentenciado por ser quem você é, silenciosamente te roubam toda a essência de viver. - O réu é declarado culpado, cortem-lhe a cabeça! - E numa tentativa desesperadora de sobrevivência, você muda. Metamorfose do mal, que não evolui, mas te sujeita à decadência. Sabe o que acontece quando seu interior não é respeitado por você mesmo, quando você sabota e trai a você mesmo? Você morre. Você não é mais você, e você não é mais ninguém. Você evapora, como éter, até não sobrar mais nada. Nem mesmo o que esperam que você seja.

segunda-feira, 28 de março de 2016

E se...

Engraçado é como já não dá pra falar de mim, sem falar de você, ainda que na primeira pessoa. Andei pensando sobre nós, e percebi que dentre os dias que estivemos lado a lado, e os que não, sempre estivemos juntos. O amor é labirinto, onde os deuses nos soltam separadamente em extremidades opostas e nos assistem. Só pra ver se somos inteligentes o suficiente para nos encontrar novamente. Tudo errado, é o que diz o nosso amor pra nós. Caminhos errados, seria este o momento de duvidar da capacidade de discernimento provável corrompida parecendo intacta. Andando depressa, com os olhos atados, procurando te encontrar e me perdendo, lá vou eu pelo labirinto que é amar você. Na tentativa de não parecer tão perdida por fora quanto estou por dentro. Eu não sei onde vou chegar, nem sei o que estou fazendo, mas sei exatamente o que quero. É como querer montar um quebra cabeças, identificando as peças usando apenas o tato. Dá pra arrumar as peças e deixar cada uma em seu lugar, mas será que é assim que vai ser? Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. E você... Olha só, eu falando de você de novo. E esse texto nem é sobre você. Tem mais de ti dentro de mim do que eu mesma. Pra te encontrar basta me olhar no espelho. Basta fechar os olhos, ou os abrir. Não importa o que faça, você sempre vai estar ali. E mesmo que não esteja mais um dia, sempre vou encontrá-lo dentro de mim. Quando nos conhecemos e decidimos que ficaríamos juntos, ingenuamente fizemos nossos votos, atando nós em nós, mudando o destino. Ou seria ele esse mesmo? Só não sabíamos quão difícil seria mantê-los. O amor é uma manutenção diária que fazemos dentro de nós mesmos, certificando-se de que está tudo em ordem, para aquilo que sentimos não possa ferir o outro. É fácil dizer que tudo vai se resolver, que tudo vai ficar bem, afinal, é o que todos queremos ouvir. O difícil é matar um dragão por dia e ainda manter o sorriso no rosto, para esconder as lágrimas no coração. Então vejo que amar é mesmo isso o que dizem por aí. Se doar, cruzar os dedos e esperar receber o mesmo de volta, É plantar na incerteza da colheita. É sentir o apertar da garganta e engolir o sentimento, seja ele qual for, na tentativa de parecer menos ridículo. É fazer planos pra amanhã sem saber se ele vai chegar. É viver o agora e já sentir saudade antes mesmo que acabe. É não saber nadar e mergulhar com tudo, sem saber onde é que não vai dar mais pé. É acreditar que a realidade pode ser da forma que se sonha, e ao dormir, sonhar com a realidade. Somos mesmo feitos de superações? Quem se bastar, que supere a si mesmo.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A certeza de um talvez

 Estar com você me faz pensar em como passei todo esse tempo longe. A cada suspiro que você dá, sinto me faltar o ar. Como se o meu inspirar dependesse do seu expirar. E talvez dependa mesmo. Talvez até meus passos na rua dependam de estar juntos dos teus quando estamos lado a lado. Talvez até o meu cheiro dependa do seu para ser como é. E até o meu sorriso dependa do seu, ainda que tímido, para acontecer. Talvez o pulsar do meu coração dependa das batidas do teu. E quando ele não mais pulsar, o meu também não irá. Talvez o talvez tenha deixado de ser uma dúvida e tenha se tornado uma certeza, e toda a certeza que eu tenho é que talvez eu precise mesmo de você. Isso é uma certeza. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Não desperte meu amor se não tiver a intenção de me amar

Você entra no meu coração
Sem cerimônia nenhuma
Pés no sofá, copos espalhados
Olhando de canto, me encaixa de lado
Fala alto e deixa a luz acesa
Toalha molhada na cama e prato na mesa
Então entra no meu corpo
Faz-me sua, usa e abusa
Com dedos e beijos
Mordidas e desejos
Durmo e te beijo
Acordo e te vejo
E me tira o controle com tantos acertos
Quer amor e beijinho
Mordida e  carinho
Marca e lacinho
Enfim de repente, te encontro na mente
Aprende sobre mim, me estuda
Trás tão pra perto, me expulsa
Me cheira e me usa
Vicia e tortura
Mas justo na mente?
Onde fica escrito o que a gente sente
Sente e não mente
Acha justo e prudente?
Observar meus detalhes
Fazer-me te amar
Se não for para sempre?

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Você não precisa entender

Tenho pensado demais em você. Mais que gostaria e com certeza, mais que deveria. Às vezes olhando pela janela. Só olhando. Pensando nas formas que te faria sorrir. Em como mexe teus lábios quando diz meu nome. Ou deitada na rede, acompanhando o céu. Adivinhando o caminho dos teus dedos, quando tocassem meu corpo. Também penso em você quando não estou pensando em nada. Flagrando minha mente traçando beijos por suas costas. Ou então meus dedos, entrelaçados nos teus. Todos os caminhos me levam a você. Pensamentos, vontades e desejos. Ainda me pergunto como esses teus efeitos liberam, em minutos, tudo aquilo que levei meses pra esconder. Talvez eu soubesse responder a constante de Planck, ou a teoria quântica de campos , e ainda sim não saber o que me prende tanto a você. Seja o que for, já desisti de compreender. Só se trata de sentir. Nunca fui de entender mesmo.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Acordei para lhe dizer que volte a dormir



E mais uma vez, quando acordou, foi preciso tomar sua pílula de realidade. Fazê-la enxergar que nem sempre o que se via, era o que acontecia. Mas como explicar ao corpo que cada toque, não havia? Permanecia imóvel, parecia. Mas do lado de dentro, era turbilhão.

Como num olhar despretensioso, num sonho qualquer, não haviam limites ou parâmetros. Tudo que lhe tomara, da forma mais real, não existia. Não haviam pés. Nem beijos. Nem apegos. Nem cheiros. Ah, os cheiros! Como se pudesse senti-lo, o carregou consigo por todo seu caminho. Ele estava lá, mesmo que não pudesse distinguir dentro de si. Já tinha seu lugar. Pudera lhe olhar nos olhos, e deixar transparecer aquilo que, mesmo com poucas palavras, não podia lhe dizer. Sentiu seu gosto, doce e amargo. O que faltava para arrancar sua lucidez. O sol que lhe queimava as pernas pela manhã insistia em dizê-la que aquilo não era real. Ela teimava. Era real por dentro. Mas era real em algum lugar.

domingo, 20 de julho de 2014

Conclui-se que:

Quando dois corpos se unem, são duas almas que se fundem. São como nuvens que se mesclam para formar um desenho. São como um espelho partido, em suas partes que se colam. Mas espelhos não se colam quando são partidos. Encontrar a parte que lhe falta, na inebriante jornada da vida é o que nos cabe. É o que resta.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Domingo de amar

  Todo domingo poderia ser diferente. Domingos nunca tem hora, nunca tem tarde e nem noite. Domingo é só um dia. Sempre igual. Ele não deveria ser um dia pra sair de casa. Deveria ser o dia sagrado de quem tem um amor. O dia para estar com a pessoa que faz os seus dias serem diferentes. O dia para ficar junto, e junto, escutar suas músicas favoritas. Dia de ir ao cinema, de comer pizza na cama, ver seu melhor filme e não sair nunca debaixo do edredom. Dia de calçar apenas meias e vestir aquela sua velha camisa de algodão. Talvez até suas pantufas de cachorro. De entrelaçar os dedos. Domingo deveria ser o dia de fazer acontecer tudo aquilo que não acontece.
E dormir, ah, dormir! Com o sol lá fora, com as nuvens, a chuva, com a dúvida de saber qual o clima do dia. Pudera eu estar num quarto escuro e mais ainda, pudera eu sentir meus pés encostando nos seus. Ou então poder sentir o seu calor. Deixar meus cabelos invadir o seu espaço, no seu rosto, ou simplesmente estar deitada no seu peito. Sem todos aqueles perfumes industrializados, só cheiro de gente. Cheiro bom de amor que vem do peito. Cheiro bom de domingo.
  E silêncio. Quisera ouvir seu coração batendo, sob o peso do meu corpo. E enfim poder passear meus dedos nos seus e correr os olhos em cada detalhe seu, sem deixar passar nada. Lhe abraçar com os olhos, a forma mais nítida de amor. Deixar que sua voz rouca me faça ouvir um eu te amo, e te cuidar da forma mais pura que só o amor permite. Coisas que não se compram. Que não se comparam. Ah, quem me dera poder ser a pessoa que torna os sonhos de outra pessoa reais. Todos os domingos poderiam ser felizes. E eu não me importaria se todos os dias fossem como este. Assim, todos os domingos poderiam ser iguais.

*Regulamento para ler esse texto: Escolha sua música favorita, esteja num momento cute e deixe seu coração aberto. Não me decepcione, leitor!