segunda-feira, 25 de março de 2013

Dias que se vão

Ela estava vivendo dias de extrema tensão. Dias de insatisfação. Dias onde um sorriso depende muito mais do que a vontade de sorrir. Dias onde nada faz sentido. Anseios. Exigências. Abria os olhos, mal conseguia se levantar. Já acordava pensando no que não tinha.

Rascunho de 04 de maio de 2011, não publicado.

Quando me tornei parte da escuridão

Infinitas foram suas tentativas de escapar de um vácuo, de um circulo fechado, de uma dificuldade jamais superada, de uma escuridão onde você não significa nada, não fala, não sente, não vê. Embora ela ainda pudesse ouvir o soar de seu coração, tudo estava perdido.

Rascunho 01 de julho de 2011, não publicado.

Terra das ilusões

  Já eram duas da tarde quando ele acordou. Olhou para a janela, viu a escuridão tapear o sol que tentava entrar no quarto a todo custo. Seu corpo estava grudado na cama, mal conseguia se mover. Mais parecia um paciente com miastenia. Até que levantou. O cérebro deslocou-se do corpo, sentiu-o mover sozinho, algumas vezes tinha vontade própria, pensou. Caminhou até onde era dia, onde havia luz, queria se encontrar, buscar algum raio de vida no meio daquele corpo morto, ele sabia que havia algo enterrado debaixo de todo aquele marasmo. Ele só precisava encontrar.  
  A tarefa era dura. Não é fácil acordar todos os dias buscando a si mesmo. Mas não é isso que as pessoas normais fazem? Eu vou lhe responder que sim, é exatamente isso. Mas ninguém tinha tanta consciência disso como ele. Todos se julgavam ser pessoas bem resolvidas, intelectas de sua própria razão. Pessoas com planos, pessoas que sabem da onde vem e pra onde vão. Decidiu que não havia se encontrado. Pensou nos motivos que tinha para estar de pé, repensou. Nada que valesse a pena. Todo o mundo estava de pé muito bem sem ele. Não havia razões para se lamentar por não ter acordado mais cedo, e não haveriam para se lamentar se ele não acordasse nunca mais.
  Ele se sentou a luz do sol enquanto assistia seu dia passar, sua vida passar. Sentou e assistiu o mundo girar, enquanto ele era só mais um peso morto. querendo ser notado pelo espetacular circo de horrores que o cercava. Odiava ter que ficar parado, observando a fusão catastrófica do mundo, vendo detalhadamente cada ser do universo sofrendo uma constante metamorfose, enquanto a sua própria metamorfose esquecera de chegar. Mas tudo chega. O tempo sempre chega. Mas há casos que não chega a tempo. Todo aquele tempo desperdiçado. E mais um dia, ele fez o que fazia todos os dias. Nada. 

  Pegou seu livro favorito, folheou as 10 últimas páginas, pois assim como ninguém, ele gostava de ler primeiro o final, queria saber como tudo terminava pra saber se o meio valeria a pena ser lido. Ele estava procurando o seu final, como tudo acabaria, bem ou mal. O seu desfecho. Só assim poderia localizar o clímax de sua história, e avançar até a parte decisiva, onde ele sentiria uma faísca acesa dentro de si, e buscaria se salvar, por mais doloroso que fosse. E no final, venceria. Era a batalha de uma potência cognitiva da alma, em busca de sua essência. Entendeu que aquela era sua batalha, sua luta, algo que dependia apenas de si mesmo, algo que estendia além de sensações corpóreas, era algo significativo, o que determinaria o que seria, como seria visto, como seria lembrado. Era sua batalha, e ele haveria de lutar por ela se quisesse vencer.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O porão dos sentimentos

Balancei a cabeça, observando sua respiração. Eu gostava dele, muito mesmo. Gostava de como a história dele terminava falando de outra pessoa, e essa pessoa muitas vezes era eu. Gostava da sua voz. Gostava do fato de ele ter me feito sorrir, mais do que alguém que estivesse próximo a mim, em tão curto tempo. Gostava de ele ser professor titular no Departamento de Sorrisos Ligeiramente Tortos com duas cátedras no Departamento da Voz Que Me Deixa Apaixonada. E gostava de ele ter um apelido. Sempre gostei das pessoas com apelidos porque você pode escolher como chamá-las.
Eu sera sempre só Jéssica, uma Jéssica univalente.

Baseado no cap II de John Green, A culpa é das estrelas.

terça-feira, 19 de março de 2013

Qual é o seu medo?

"As vezes queria entender porque as pessoas ficam andando por aí, frias, olhando umas pras outras. Queria entender porque o mundo é superficial. Tudo está num ponto tão difícil, numa cor tão escura, tão grave que parece não ter mais volta. Isso dá medo."
  Você passa meia vida nessa maldita filosofia e percebe que, de repente, não pensa mais nisso. Sinal de alerta, algo está terrivelmente errado. Suas mãos já não gelam como antes, seu corpo responde a tudo num milésimo de segundo e existem coisas voando no seu estômago. Então você entende que isso sim dá medo. Quando alguém se apaixona, tem dois caminhos. Ir em frente ou partir. Nem sempre temos escolha, as vezes o coração responde por si próprio, e foi exatamente aí que cheguei onde estou, pacata, escrevendo pra ninguém ler. Aconteceu comigo, vai acontecer contigo, acontece com todos. E quando isso acontecer, meu caro, você não terá tempo pra se despedir de quem você era, nem tempo pra dizer olá para a pessoa que vai se tornar. Simplesmente acontece. Mesmo que tentes evitar, uma hora essa armadilha criada por uma conspiração do universo, vai chegar, e dependendo das proporções, vai se tornar cada dia maior, mais presente, mais significante, até que você não sinta sua respiração. Até que abrirá os olhos pela amanhã e se dará conta de que está pensando de novo na mesma coisa que pensou antes de ir dormir. E então tudo cresce. Tudo aumenta. Forma, tamanho, ação e  reação. E quando estou sorrindo, pensando naquele mesmo assunto, é aí que vejo que está fora de controle, então me pergunto "Porque eu? Porque justo comigo?!". Tarde demais.
E aí alguém pergunta "Qual seu medo? Do amor ou de não ser correspondida?"
"De amar, meu amigo, de amar."