terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O interminável amanhecer da imortalidade.

Pus as mãos dos dois lados de seu rosto e fechei os olhos, concentrada.
Eu não me saíra muito bem quando Zafrina tentara me ensinar, mas agora eu conhecia melhor meu escudo. Entendia a parte que combatia a separação de mim, o instinto automático para a autopreservação acima de qualquer coisa.
Ainda não era nem de longe tão fácil quanto proteger outras pessoas junto comigo. Senti o puxão elástico de novo enquanto meu escudo lutava para me proteger. Tive de lutar para empurrá-lo inteiramente para fora de mim; precisei de toda minha concentração.
-Bella!- Edward sussurrou, em choque.
Eu soube então que estava funcionando, e me concentrei ainda mais, trazendo as lembranças específicas que eu havia poupado para este momento, deixando que inundassem minha mente e, com sorte, a dele também.
Parte das lembranças não eram tão claras - lembranças humanas indistintas, vistas através de olhos fracos e ouvidas por ouvidos fracos: a primeira vez em que vira o rosto dele... o que senti quando ele me segurou na campina... o som de sua voz na escuridão de minha consciência vacilante, quando ele me salvara de James... seu rosto enquanto me esperava sob o dossel de flores no dia de nosso casamento... cada momento precioso da ilha... suas mãos frias tocando nosso bebê através da minha pele...
E as lembranças agudas, perfeitamente recordadas: seu tosto quando eu abrira os olhos para minha nova vida, para o interminável amanhecer da imortalidade... aquele primeiro beijo... aquela primeira noite...
Os lábios de Edward, de repente ferozes nos meus, romperam minha concentração.
Com um arquejo, deixei escapar o peso vibrante que tentava manter afastado de mim. Ele voltou como um elástico esticado, protegendo meus pensamentos de novo.
-Epa, perdi!- suspirei.
- Eu ouvi você - sussurrou ele - Como? Como fez isso?
- Idéia de Zafrina. Treinamos algumas vezes.
Ele estava atordoado. Piscou duas vezes e sacudiu a cabeça.
- Agora você sabe - eu disse baixinho e dei de ombros. - Ninguém jamais amou alguém como eu amo você.
- Você quase tem razão. - Ele sorriu, os olhos ainda um pouco maiores do que o normal. - Só sei de uma exceção.
- Mentiroso.
Ele começou a me beijar de novo, mas parou de repente.
- Pode fazer isso outra vez? - perguntou.
Fiz uma careta.
- É muito difícil.
Ele esperou, a expressão ansiosa.
- Não consigo me fixar se tiver a mais leve distração - alertei-o.
- Vou me comportar - ele prometeu.
Franzi os lábios, meus olhos se estreitando. Depois sorri.
Coloquei as mãos em seu rosto de novo, lançando o escudo para fora de minha mente, e então comecei onde eu havia parado - com a lembrança clara como cristal da primeira noite de minha vida nova... demorando-me nos detalhes.
Eu ri sem fôlego quando seu beijo ansioso me interrompeu meus esforços de novo.
-Droga - grunhiu ele, beijando faminto a linha do meu maxilar.
- Temos muito tempo para trabalhar nisso - lembrei ele.
- Para sempre, para sempre e para sempre - ele murmurou.
- Isso soa perfeito pra mim.
E assim, alegremente, continuamos aquela parte pequena e perfeita de nossa eternidade.


fim

(Amanhecer - Stephenie Meyer - Livro III - páginas 564 e 565.)