terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Pisioneira da ilusão
Havia tempo que ela não se sentia viva. Havia tempo que ela não sentia nada. Nada em sua vida que pudesse guiá-la até um caminho que, ao menos, disfarçasse as aparências, mas aquilo já não tinha a menor importância diante do turbilhão de sentimentos que inundava sua vida. Ela havia sido corrompida. Tomada pelo desejo alheio de infelicidade, e no fundo no fundo, ela sempre soube o que a aguardava. Era como colocar-se diante do fogo sabendo que vai se queimar. Era como se atirar do alto de um penhasco sabendo o que vai encontrar lá embaixo, como mergulhar pra nunca mais voltar. Embora sentisse muita dor, ela não se movia. Ela havia se acostumado com a dor, e acostumar-se com a dor, acostumar-se com o sofrimento, é o pior destino que alguém pode querer pra si mesmo, é o pior rumo que alguém pode seguir. Pelo menos a dor a guiava. E agora que a dor não está mais lá e tudo o que existe é apenas um enorme vazio que a domina sempre que ela tenta se erguer? Pra onde ir quando todos os caminhos se perderam? Pra onde ir quando todas as portas se fecham? Quando o vazio é tão grande que mal pode encontrar o ar? Pra onde ir quando seu corpo é apenas um suporte para uma alma definhando em uma ilusão que a alimentava? E repentinamente, todo aquele mal que antes a fazia decair agora se tornara tão importante como sua própria vida. Ela, sem tudo aquilo, se resumia a nada. Como viver sem algo que apenas lhe faz mal, mas por outro lado te completa? Era ela uma prisioneira de uma ilusão, tudo não passou de uma mentira pra alimentar seu coração, uma mentira que quase lhe custara a vida, uma mentira que avassalou seu coração.